Era uma
mulher belíssima. Alta, para a sua faixa
etária e muito elegante. Magra, cabelo em
cachos de avelã. A cor dos olhos nunca era
igual. Ia de um verde intenso, passando pelo
cinzento, até um verde morno salpicado de
bolinhas, também cor de avelã. No entanto, o
seu olhar era sempre igual. Directo,
penetrante, limpo...por vezes algo irónico e
até irritante. Era uma pessoa muito prática
e detestava a falta de iniciativa.
Vestia-se com alguma vaidade. Não para
mostrar a qualidade da roupa, mas a
qualidade de quem a usava. O seu andar era
firme, por vezes altivo, mas sempre
mostrando a sua "Força"...que era mais ou
menos aparente...nunca mostrava a sua
fragilidade, nun-ca!
Onde entrava, dava-se por ela, ainda que não
fizesse nada para is-so.
Na
família, era conhecida por "xerifa", o que
lhe dava um gozo enorme. Ela gostava que a
vissem assim ... sempre forte, para
es-conder que era uma mulher com alguma
fragilidade.
Também se sentia mais "ela", como mulher
feliz, quando cuidava do jardim e dos
animais...tanto as plantas quanto os animais
ti-nham de estar bem, como ela queria.
Pragas? Nem pensar...as flo-res tinham de
lhe sorrir. Animais doentes? Nem pensar...a
sua ap-tidão para tratar de qualquer maleita
ou ferida era bem conhecida por eles
(plantas e animais e pessoas)
No
entanto, se não fosse aquela revolta que a
consumia mas que a fazia uma mulher
inolvidável, teria sido das pessoas mais
alegres que se podiam conhecer. Tinha um
sentido de humor apuradíssi-mo e
inteligente, como ela era...de uma
inteligência que queria discreta, mas a qual
não conseguia esconder.
Creio que, quase ninguém, dava pela sua
tristeza...já da revolta, a ninguém passava
despercebida. O marido morreu cedo e ela
ficou ainda mais "forte" por ela e pela
filha que achava demasiado ingé-nua ... para
o exterior, porque interiormente, sentia-se
a tristeza e a revolta, que até se podia
chamar de raiva - eu chamava...
Nunca a vi parada, naquele torpor que nos
faz repousar...mesmo sentada ou deitada,
nunca descansava, disso apercebia-me.
Irrita-vam-lhe as pessoas mais "paradas"
(moles, como lhes chamava).
Tinha a severidade e a bondade na mesma
proporção o que, às ve-zes, confundia as
pessoas.
Algo prepotente, mas por dentro ali estava
uma pessoa disposta a abraçar o coração de
quase toda a gente (era muito exigente com
todos, começando por ela própria e na
escolha de quem gosta-va) ... pouca gente
dava por isso...pelo abraço "interior" que
enviava...
Era uma mulher belíssima, inolvidável. Era a
minha Mãe. Saudades minha querida Mãe.
Beijinhos e Feliz dia da Mãe
“Sei
que a Lua não é minha, mas pode morar em mim
... Sou Ana”