Livro Encontro XI - Ano de 1989 -
Poesia classificada em 3º lugar
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Lembro-me bem, era uma criança apenas,
e alguém me indicou com ares de mecenas:
- o que vai ser quando crescer?
Nesse instante foi plantada uma semente
numa cabeça ainda inocente
- Que profissão eu devia escolher?
Podia ser bailarina
daquelas que desde menina
encantam do povo ao rei.
Mas de pensar na perna quebrada,
ponta dos pés na unha encravada...
Oh, não! Não servia para mim.
Podia ser outra artista
talvez uma grande pianista
Arrancando aplausos de Deus.
Mas de pensar nas horas sentada,
as mãos frias e a bunda quadrada...
Oh, não! Não servia pra mim.
Podia ser a advogada
co'a balança justa e bem pesada
obedecendo à verdadeira lei.
Pensando bem, seria um perigo
sentenciar, ao opressor, seu castigo...
Oh, não! Isso seria o meu fim.
Podia ser a pecuarista
com o gado a perder de vista
pastando em meu próprio chão.
Mas de pensar no ferro em brasa
abate sangrento e febre aftosa...
Oh, não! Não servia pra mim.
Talvez, então, a engenheira
projetando uma cidade inteira
para o povo bem morar.
Pensando bem, que chateação
estudar álgebra e equação...
Oh, não! preferia estudar latim.
A vida, porém, deu sentença impiedosa
enquanto eu pensava, passou silenciosa.
- O que fui quando cresci?
Não sei se por medo ou ousadia,
tornei-me uma ânfora vazia
da taça da vida não sorvi.
Contudo, não me dou por vencida
faz de conta que é o ponto de partida.
- O que vou ser quando morrer?
Talvez me torne um anjo de verdade
e possa ter, por toda eternidade,
a profissão que enfim eu escolher.
Ser uma anjo também tem inconveniente
não é fácil fazer guarda permanente
junto às costas dos vis e imorais.
Mas de pensar no riso da criançada
ao receber uma graça almejada
Oh, sim! É isto que quero pra mim.
Formatação de Carlos Roberto Lemberg
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