Livro Encontro I - Ano de 1979 -
Poesia classificada em 1º lugar
|
I
A CONSCIÊNCIA
Corri no tempo,
deixei a alma
o sangue!
Mergulhei no passado,
me molhei no esquecido,
me enxuguei no presente,
floresci no futuro!
Mas o que é certo?
Se até hoje caminhei em círculos
embebido pela minha própria voz,
embalado por meus passos e ruídos!
Onde?
Quando?
Para onde a terra prometida?
Sou um caminhante na sombra,
na luz,
sozinho,
criatura e Criador
caminhante!
Será tudo imaginação da mente conturbada?
Quem me confundiu tanto?
Vaidade?
Basta de enganos e pretensões!
Olhai!
Sou uma larva!
Olhai e não esqueçais!
Prisioneiro sou da carne,
do mundo,
Prisioneiro da necessidade por mim criada,
inseguro até a própria sombra,
inseguro
e triste!
Não sei se minha voz é de meus lábios,
se meu olhar é luz de meus olhos, se meu resultado é a soma de mim mesmo!
Não saber é triste!
Inseguro!
Uma desgraça oprimindo um desgraçado!
Sou um rio soturno que deságua no mar da madrugada.
Sou um HOMEM!
Solitário!
Triste!
Pobre fragilidade da criação,
de corpo cansado e alma em pedaços.
Mas sem temor do que já dito,
sem temer o que já feito,
sem temor,
novamente insisto na aurora,
na luz,
no sol!
Mas o que me importa agora é o espinho que está presente,
porque nada restará da alvorada,
do crepúsculo de uma existência,
ou mesmo das luzes do meio-dia!
SOU UM HOMEM!
Criatura e Criador caminhante!
Enganados pelas miragens!
As areias são quentes
e o deserto é longo,
muito longo para meus pés!
II
ANGÚSTIA
PARTIR!
Partir e não voltar!
Para sempre não voltar.
quebrando os grilhões em plena treva.
Para sempre!
Adeus, nunca mais!
Nunca mais voltar.
Para sempre adeus à infância,
à juventude,
às horas difíceis!
A partida está lembrando o possível de um outro canto.
Na despedida,
olhar para mim mesmo e compreender a condição de servo.
Pela derradeira vez olhar!
Bem-aventurados, todos bem-aventurados,
porque na partida todo aquele que olhar em torno,
todo aquele que olhar para sua própria sombra,
em maldição sua imagem ficará.
Para onde seguir!
Para onde dirigir o olhar que longe abrange?
PARA ONDE?
Estou extraviado
certamente estou!
Não adianta fugir!
Sou pobre e frágil criatura, servo do Criador!
Mas, mesmo sabendo do perverso castigo,
mesmo sabendo de todos os martírios,
desejo a libertação para existir um dia,
se possível.
Malditos os conformados!
Malditos, de maldição e de vergonha!
Tivemos todos uma consciência pura,
tranquila e pura
como o sono de um menino.
Oh! Se a partida fosse breve
e se a consciência não clamasse tão alto.
Partiria para sempre quebrando as algemas,
na escuridão
para sempre!
Partir
tão somente partir!
Partir sem esperança,
sem pensamentos,
entre o vácuo,
o sono
e o sonho!
Repousar no extremo o corpo cansado
de tantas compaixões.
Repousar até o nunca mais repousar,
quando o Deus dos Exércitos
conciliar todas as gentes e os povos
para a final luta de grandeza,
através dos rios,
vales,
cidades,
selvas e trevas,
entre nós
e os homens
mais felizes,
ou mais desgraçados
que virão!
III A AURORA
Embebido em meu sono
durmo acordado sonhando,
é esperança!
Já não durmo,
vivo,
vejo,
acordo,
é madrugada!
Já não corro,
ando,
paro,
sinto,
é amor!
Quietos!
Ouvi!
é o silêncio cantando,
falando,
pulando nos ramos da manhã,
brincando com a liberdade,
pendurado nos galhos do dia!
É manhã!
É luz!
É criatura e Criador
caminhando,
misturando-se
é amor!
Levanto,
corro a me embalar no silêncio!
Embebido do silêncio
em cima da montanha
vejo rios e vales,
alvorada e crepúsculo,
gentes e povos
misturados
com o Criador!
Olhai,
mas não vos esqueçais!
Vede a pureza
o sorriso da rosa com o menino!
É criatura e Criador
caminhando numa só caminhada!
É o silêncio do menino triste
no colo da criança calada
que irá crescer na manhã da alegria!
É madrugada!
Aurora!
Luz!
Alegria!
Dia!
Festa!
Por isso,
sem temor do que já dito,
sem temer o que já feito,
sem temor
novamente insisto
na AURORA !
Formatação de Carlos Roberto Lemberg
|