Trieto: Fendas - Rivkah Cohen, Fernando Almeida e Manuel de Sousa

 
Recebi em 30/12/2004
 
Fernando, eu que fico honrada por tê-la usado
para escrever tão belo Poema sobre
essa calamidade que nos tocou fundo n'alma.

Aproveito para colocar também o meu escrito
feito na manhã do dia da tragédia.

Repasso a meus Grupos.
Com orgulho,
Rivkah

Também seremos longe da vingança... Poeta Fernando Almeida

Também seremos longe da vingança...
Fernando Almeida


Começam a ouvir-se os gritos já calados
Nas faces mutiladas pelo último suspiro.
Arrastados pelas terríveis e vis crinas
De tantos tsunamis (deste e dos passados)
Se vão esvaindo nas entranhas da memória
Até que alguém desligue o interruptor.
Enquanto (tsunami) rumina
O remorso de tanta punição
Entretemos o nosso espanto
Num coletivo pranto.
Bebemos e carpimos lágrimas longas
Que se vão mantendo em sintonia
Com o que nos é servido pela televisão
E nos chega da lonjura do mundo
Sentados ao sofá (carpindo lágrimas)
De ver o que lá vem de longe
Onde era muita a multidão em fuga…
…e num repente se tornou em nada
Vil Natal este que passou agora
E nos vai carregar pelos eternos anos fora.
Data fatídica misturada em laivos de alegria
Porque foi (e será) assim apesar desta tristeza atual
Que a alma nos algemou e arrepia…
Era só de belas histórias e de ritos feito
E ainda de mendigos aflitos (pra bem da caridade…)
Era toda esta tradicional alegria de dar e receber.
Agora… surge-nos o arrepio da fúria
Do mítico Adamastor ressuscitado
Que nos renova as fatídicas tempestades
E nos arrasa a vida com as tormentos.
Oh gigante feroz
Oh impotente súplica da vã clemência
Num grito de desespero atroz.
Trava teus ventos teu ímpeto da sede de secar vidas
E roncar desesperos nas faces da miséria!
Não vês que estamos todos mutilados
Nesta imensa praça e já nos falta a força de carpir?
Não vês que estamos mutilados
E foi-nos mutilado o jeito de sorrir
Oh mundo carnívoro assassino
Agitador alvoroçado que nos lançaste
Neste fatídico destino!
Não vês as almas de cabelo eriçado
Não vês que poderias estar lá naquela exata hora
E continuarias distraído
E que por ti próprio serias engolido?

Continuando o espanto, o nosso coletivo pranto,
junto o meu brado e grito a minha fúria…
Fernando Almeida.

P.S. Desculpa minha amiga, por usar a tua bela imagem. Eu não sei desta tua arte…
Abraço e paz para todos

Fendas - Poetisa Rivkah Cohen

FENDAS...
Rivkah


Três dias nos foi dado
Lembrei sobre isso no Natal.
Três dias e nada mais...
Quem pôde
abraçou os seus,
quem não pôde,
não mais abraçará...

As FENDAS...
 mágoas da Mãe Terra.
Veremos muito choro, muitas velas,
mas nada que possam-nas fechar.


Elas estão aí para nos lembrar

que a qualquer momento
diante de um sofrimento
Ela pode chorar...

FENDAS...
Elas estão em tudo que é lugar!
Rasgam em dor em São Francisco
A vi de perto em minha Eilat...
A prova que o mundo está interligado!

Meu povo, com todo conhecimento
fica inerte diante do sofrimento
que se abre em fenda em nosso Estado!

O que fizemos à Mãe Terra?
Por que a ferimos no peito?

O que faltou à Ela?
Seria o respeito?

Mãe minha, Mãe amada,
não fique triste conosco!
O que lhes fizemos
que lhe causa tanto desgosto?

Falta-lhe amor... Será?

Hoje foram mais de seis mil
e amanhã?
A que número chegará?


Escrito por Rivkah Cohen em 26 de dezembro de 2004,
logo que começaram chegar as notícias.


Tsunami - Poeta Manoel de Sousa

Quantas mais "Vozes" se juntarem, maior será o apelo em prol da Corrente Humana Mundial de solidariedade à Urgente Assistência-Ajuda Moral, Espi-ritual, Religiosa, Financeira e Material de todos nós...

Havemos de ver-testemunhar, muito em breve, ao formar de uma "Onda Gi-gante" (Tsunami Humano, muito mais poderoso que qualquer outro!) de Soli-dariedade, nunca antes visto, estamos plenamente convictos disso, onde Países, Empresas, Organizações, Pessoas e Grupos de todo o Mundo, hão-de demons-trar o quão poderoso é o "Poder do Bem" e do Altruísmo Humano, quando o queremos, que nos deixará a todos perplexos e admirados, da forma mais posi-tiva possível...


Viva a Humanidade de Boa Vontade..., pois, será dela, os Reinos da Terra..., sendo os dos Céus e os da Luz, do Criador Todo Poderoso e Misericordioso...

Paz Interior para todos, sem execepção...

manuel de sousa
Luanda - Angola


PS: Juntemo-nos agora em prece, por alguns minutos, em meditação e contem-plação silenciosa, por todos aqueles muitos milhares que partiram de entre nós, para se juntar à Sua Poderosa Luz Omnisciente e Omnipresente...

“Tsunami”
manuel
de sousa


Porque estavas tão calmo
Aparentemente
Ò doce mar
Quando
Sem que esperássemos
Te levantaste
Numa colossal parede
Carregada de raiva
Encolerizada
Vindo em nossa direção
Ameaçadoramente
De garras em riste
Bocarra pronta para abocanhar tudo
Com o vento a soprar-te na crista
Empolgado com teu roncar medonho
Ainda olhei para ti incrédulo
Quase paralisado e tremendo das pernas
Ó gentil mar
Quando nada mais restava em meus olhos
Que não um grandioso terror
Uma vontade imensa de correr
Fugindo de tua fúria desconhecida
Como se ora houvesses enlouquecido
Para te arremessares assim contra o Paraíso
Com um louca violência nunca antes vista
Arrancado vidas e árvores à tua passagem
Levando-me na revoltada correnteza
Arrastando corpos e barcos juntos
Despedaçando e ceifando edifícios
Deixando-me contudo arrasado...

...Mas vivente
Poisado Algures num lugar qualquer a salvo
Algo aliviado por estar vivo
Algo triste por tanto desespero
Quando ainda apelava a Deus
Que aplacasse as forças da natureza
...e nos perdoasse a todos
Mesmo aos que acabavam de partir
Para sempre...

Em Homenagem a todos os Turistas Estrangeiros
 que passavam seus tempos livres,

em
zonas consideradas como autênticos Paraísos Terrestres,
e sobretudo,
aos pobres Cidadãos Nativos dos Países atingidos
 pela fúria tempestiva do Tsunami,

que
  além de muitos membros de suas famílias,
perderam casas e haveres, ficando ainda mais na miséria...




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