Fiz do meu jardim um santuário onde meu canto é solitário. Tenho somente por testemunhas, água, flores e muitas avezinhas... Saudades da minha inocência. Hoje, trago na minha aparência ondas tristes, marcas e feridas, mágoas pelas sombras recolhidas... Num desvão do tempo me feri, na imagem da aflição eu me perdi e no escuro do abismo eu caí... A morte se debruça sobre mim, simples, cruel este eterno fim que me açoita no meu solitário jardim... Naidaterra E canta o rouxinol, na madrugada, Melodias que, da alma, vão surgindo, Tem seus ovos no ninho da ramada, Com seu corpo quente, os irá cobrindo. Súbito, alguém começa uma escalada, De ramo em ramo, mas sempre subindo, E o rouxinol, tremendo, não faz nada, Que seu lar, umas mãos vão destruindo. E de cabeça erguida para os céus, O pobre rouxinol pergunta a Deus Porque a maldade humana ainda existe, Então, embrenhado na tarde calma, Doloroso suspiro lhe sai da alma, E lança, para o espaço, um canto triste. António Barroso (Tiago)
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