Natureza morta
Vida torta
Palavras escondidas
atrás da porta
Segredos da alma
guardados no
poço da melancolia
Olhares cruzados
Medos velados
Beijos sonhados
com a flor da alegria
Leda folia
dos desejos carnais
Perdidos no verde dos
canaviais
Corpo sedento de orgias
Nublados de fantasias
desmaiam na doce poesia
Sob o véu da utopia
o pobre poeta cria
suas loucas elegias
No canto da cotovia
a sua dor pia
a solidão de mais um dia!
Zena Maciel
13/11/2004
Nos devaneios da tua loucura
afastei-me de ti.
Algemaste meu coração na clausura
e eu me combali.
Nas janelas da minha esperança
cerrei as negras cortinas,
depois que traíste minha confiança
doando-se nas esquinas.
As taças de nossos desejos
quebraste num súbito bafejo.
Destruíste tudo ao teu redor.
Dos escombros da dor, renasci.
Rompi a casca débil da incerteza
e avistei o resplendor da natureza.
Troquei a pele em chagas martirizada
pela plumagem da beleza.
Alcei vôos pelas matas sombreadas,
fugindo dos abutres da esperteza.
E ao entalhar meu ninho em outra morada,
fiz da nova vida uma fortaleza.
Depois de tudo que sofri
Sobrevivi a ti.
Marise
Ribeiro
Rio de Janeiro -
RJ -
22/08/2005
www.mariseribeiro.com
Garçon,
champanha francesa, duas taças
eu quero a morte vedete,
não a parca litúrgica dos salmistas
lançando pelas naves dos tempos
lamurientes de profundis
e cronometrados dies-irac
eu quero a morte vedete
a morte dos clowns
ecleticamente paramentada,
com as vestes berrantes de um deus azteca
ou a manta bizarra de um jogral qualquer
da idade média
as mulheres e homens
me verão passar
e continuarão bebendo wisky
no bar do ponto.
Os credores virão também
depositar sobre meu túmulo
gramas usuárias de argila barata.
Os homens dirão, talvez, que eu fui
em paz
alguém esquecerá uma flor que eu não pedi.
Garçon,
champanha francesa, duas taças
uma para a poetisa
outra para sua nova amante,
a neurose.
Glácia Daibert
Uberlândia - MG
Fundo Musical: Harp 072
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