O MILAGRE DA PRAÇA...
José Geraldo Martinez


Pombinhas da praça São João
distraem o olhar do menino...
Daquelas vizinhanças, por certo!
Perdido entre elas,
assusta-se ao tocar dos sinos!

Todos os dias era assim,
ficava ali observando...
O tempo lhe era generoso!
Até que, ao seu redor,
todas fossem se juntando.

Tratava-as com carinho,
apesar do vigário!
Sujavam as escadarias da igreja,
para o azar de padre Olegário!

Engraçado! Num dia que ninguém esperava...
Ele abriu os braços todo contente e,
às vistas de toda aquela gente,
o garoto com elas voava!

Sobrevoa a igreja, levita
ao céu de puro azul...
Ao olhar das incrédulas pessoas!
Junto ao bando, qual anjo...
O menino voa!

Até sumir nas alturas do céu sem fim...
Neste instante, rompe a chuva
por sobre a cidade,
abrindo um arco-íris em leque multicor,
trazendo o vento com cheiro de jasmins!

O que não sabiam todos
era o que havia sucedido:
um dia antes do fato - acreditem -
o menino havia morrido!


"Para estarmos ao lado do Pai,
não é preciso bagagem alguma,
apenas termos a alma pura de uma criança."
(José Geraldo)
O Milagre da Praça
(Eugénio de Sá responde
ao seu amigo José Geraldo Martinez)
 
 
Um anjo, aquele menino dessa praça
que as mansas pombinhas recebiam
e voando com ele todas queriam
ganhar de Deus essa suprema graça:
 
A graça que dos céus é recebida
p'los seres que deste mundo tão perdido
sabem dar-se a si próprios um sentido
que casto, dê sentido às suas vidas
 
E essa alminha que Deus mostrou ser Sua
e ergueu nos ares com as mansas pombinhas
vestiu de luz as outras almas nuas
 
Dela ficou perfume de jasmim
a pairar na Praça de São João
porque o odor do amor é mesmo assim.
 

 
 
 
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