Injustiçados
Eugénio de Sá
Aqueles a quem a morte mais reclama
Porque muitos invernos já viveram,
Os que da vida a chama já perderam
E têm por incertos pão e cama;
Essas árvores que os ventos não vergaram
Pra confortar a prole da sua rama,
Que hoje (ao abrigo) lhes ignora o drama
E que despreza o bem que eles fizeram;
São os credores maiores da sociedade
Desta, que os omite e os maltrata
Votando-os à aviltante indignidade;
E enquanto que a miséria os desbarata
E os esmaga tanta iniqüidade
O abandono plos seus é que mais mata!
Reeditado em 28/12/2010)
Queixas do Aposentado
Humberto Rodrigues Neto
No viver do aposentado,
esse eterno injustiçado,
reside a dor e o insucesso.
Pena e sofre o ano inteiro
por saber que o seu dinheiro
vai pro bolso sorrateiro
dos nababos do Congresso!
Rotos da calça os fundilhos,
vive da esmola dos filhos,
amargando o sal da terra!
Mas o Senador que o engana
usa gravata italiana,
tem camisa americana,
seus ternos vêm da Inglaterra!
E foi o tal "Pai dos Pobres",
na verdade a mãe dos nobres,
que implantou a nova onda...
Com requintes de indecência,
sem moral, sem consciência,
esbulhou a Previdência
pra fazer Volta Redonda!
Aliás, os Presidentes,
foram todos coniventes
com a grei da espoliação,
pois ladrões e apaniguados,
de bolsos locupletados,
não têm seus bens confiscados,
e nem vão para a prisão!
Chega outro e eis que de novo
se torna ladrão do povo
e esquece o velho que sofre!
E hoje tem, cada família,
do idoso a eterna quizília,
pois pra construir Brasília,
fez-se novo estupro ao cofre!
No rosto, a careta, o trismo
das pedras, do reumatismo,
das varizes e do inchaço!
No peito o grito contido,
o ódio surdo reprimido,
por ver seu cobre investido
na Rodovia do Aço!
Geme o idoso e a pensionista
nesse arcano fatalista
onde cada junta dói!
Em vez de um lauto repasto
vão ter de comer no pasto,
pois seu pecúlio foi gasto
na Ponte Rio-Niterói!
Depois criticam os idosos
por se lembrarem, saudosos,
de algum tempo de ventura!
E esses míseros plebeus
são acoimados de ateus
quando agradecem a Deus
os tempos da ditadura!
Art/ Formatação:
Dama Misteriosa
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