mãos negras ou de brancura
escolhendo à’dversidade
e dedos feitos voar ***
AS MÃOS
EUGÉNIO DE SÁ
Há dois mil anos houve quem quisesse
Libertar do remorso a consciência
Deixando que uma horda p’la demência
Um Inocente em Mártir transformasse.
Julgou então Pilatos que lavar Com água pura as mãos lhe bastaria
P’ra que a alma sentisse casta e pia
Sem mais razões p’ra se auto censurar.
Não bastaram então nem hoje bastam
Que rios d’água corram sobre quem Outra vontade tenha – pois não tem –
Que liberte da dor os que se castram.
Que culpa tem um pobre pigmento
Que gerações transportam na genética?
Por que há-de ser assim vil e profética
A cor da condição do sofrimento?
Podem lavar-se as mãos, corpos e rostos
Com águas límpidas, até perfumadas
Que as roupas ficarão só encharcadas Mas fétidos os gestos decompostos!
***
21/Novembro/2008 |