Desespero
António Barroso (Tiago)
Donde virá a dor que me entristece,
E a mágoa que, no peito, se amontoa?
Tristeza, sem motivo, não se escoa
Na lágrima furtiva que aparece.
Que seja um sofrimento que acontece,
Ou um pesar, bem fundo, que magoa,
Pode até ser desgosto que inda doa,
Recordação subtil que o sonho tece.
Não sei e nem procuro uma razão
P'ra ver o que me doi no coração,
Angústia que não finda na quimera.
Minha alma vive de recordações
E, enquanto, para todos, há estações
Em mim, já não encontro a primavera.
***
Parede/Portugal
27/11/2011
Desespero 2
Glória Marreiros
Eu sei o que é sentir a dor profunda,
que forma em nosso peito uma montanha
de enorme nostalgia, onde se apanha
a lágrima de sal, que não inunda.
É mágoa nova ou velha, mas corcunda
pelo peso do tempo e de tamanha
carga de sentimentos, que emaranha
o ser de já não ser, que em nós abunda.
Procurar a razão? Não vale a pena.
A vida pôs no palco a triste cena,
onde a saudade baila ao desvario.
Verões e primaveras não existem;
somente as estações, onde persistem
geadas a cobrir o nosso frio!...
Algarve/Portugal
28/11/2011
Carmo Vasconcelos
Quem sabe donde vem a dor que fere
sem que se veja o quê dessa invasão
que sem premissa aporta ao coração
cravando-lhe essa mágoa que não quer…
Talvez um sonho antigo que interfere,
vingando a morte imposta pla razão,
vista de dor a atroz recordação
que o nosso peito toma de aluguer.
Mas como tudo, enfim, tem ida e volta,
recordação também de nós se solta,
quando ao presente brilha a realidade…
Que a vida traz em si mobilidade,
e o sentimento que era de aflição
vai-se e concede a paz ao coração!
***
Lisboa/Portugal
28/11/2011