No passado, os hipertensos eram simplesmente
proibidos de comer sal.
Hoje, não somos tão radicais, porque o cloreto de sódio
é um mineral indis-pensável para o funcionamento das células, devendo ser
ingerido mesmo por quem sofre de pressão alta.
Mas é preciso cuidado, porque cerca de 60% das pessoas
apresentam sensi-bilidade exagerada a ele.
Organismos que acumulam sódio com mais facilidade retêm
líquido em ex-cesso e podem apresentar tendência à hipertensão.
Para cada nove gramas de sal ingerido, o corpo retém em
média 1 litro de água.
São mais sensíveis os negros, as mulheres e homens com
mais de 65 anos, os portadores de diabetes e aqueles que têm familiares
sensíveis aos efei-tos do sal.
Embora estejam bem documentados os efeitos benéficos da
redução de sal em casos de hipertensão de intensidade leve ou moderada,
faltavam estu-dos nos casos mais graves.
A revista Hypertension publica o primeiro estudo que
avalia o papel do sal em pessoas portadoras de hipertensão resistente,
definida como pressão arterial elevada apesar do uso de três ou mais
medicamentos.
Quadros hipertensivos resistentes como esse constituem
um problema relativamente comum: afetam de 20% a 30%
dos hipertensos, e sua fre-quência tem aumentado em paralelo com a propagação
da epidemia de obesidade.
O estudo foi conduzido com apenas doze participantes, no
ambulatório de Hipertensão da Universidade de Alabama.
Os autores compararam dois níveis de ingestão de sódio:
5,7 gramas por dia versus 1,15 gramas (um pacotinho
de sal contém cerca de 1 grama).
Apesar do pequeno número de participantes, o trabalho
foi árduo.
Os pacientes foram colocados alternadamente em dietas
rígidas contendo um desses dois níveis de consumo de sódio, por períodos com
duração de uma semana.
A pressão arterial foi medida em diversos horários e
monitorada por apa-relho portátil durante as 24 horas do dia.
Metade dos pacientes eram negros e 7% mulheres.
O Índice de Massa Corpórea (IMC =
peso/altura x altura) médio foi de 32,9 kg/m2 (portanto
na faixa de obesidade).
A pressão arterial média inicial do grupo era 14,6 por
8,4 (em cm).
Os pacientes tomavam, em média, três a quatro medicações
anti-hiper-tensivas, diariamente.
As comparações entre os dois grupos revelaram que
aqueles mantidos com 1,15 gramas diárias de sódio apresentaram redução
média de 2,27 cm na pressão máxima e de 0,91 cm na mínima.
No editorial que acompanha o artigo publicado, Lawrence
Appel, da Johns Hopkins University, comenta: “Essas
diminuições da pressão arterial exce-dem às que foram obtidas em outros
estudos sobre dietas com pouco sal em indivíduos com hipertensão não tratada”.
E acrescenta: “Os níveis de
redução da pressão observados equivalem a acrescentar mais uma ou duas
drogas nos esquemas desses casos resisten-tes”.
Outro achado surpreendente foi o alto nível de consumo
de sal relatado pelos participantes, antes do início do estudo, período em
que cada um escolhia a dieta que melhor lhe aprouvesse.
Nessa fase inicial, o consumo médio era de 4,5 gramas
diárias, mais do que o dobro da dose máxima recomendada para a população em
geral e mais do que o triplo da indicada para quem sofre de hipertensão.
Os autores concordam que é praticamente impossível
alcançar níveis de ingestão de sódio próximos de 1,15 gramas diárias, na
vida prática.
A experiência mostra que, mesmo com aconselhamento
intensivo, enfocado apenas na redução do consumo de sal, as médias atingidas mal chegam ao dobro dessa.
Um dos maiores obstáculos para a redução da quantidade
de sódio na dieta dos hipertensos é o alto teor de sal existente nos
alimentos processados e nas comidas preparadas em restaurantes.
Num mundo em que as pessoas ativas fazem boa parte das
refeições fora de casa, não é fácil adotar dietas restritivas como a
proposta pelo estudo.
Colaboração da amiga
Aliene Santos