O acidente


Esta Crônica recebeu as seguintes Premiações:
01 – Concurso "Machado de Assis" – 2.º Lugar – Categoria Contos - Redacional Editora – Londrina – PR – 2006
02 – 16ª Antologia de "Contos de Autores Contemporâneos" - Edi-tora CBJE  - RJ - Abril/2006



Jonas e Luís estavam viajando de madrugada. Enquanto Jonas diri-gia, Luís repousava no banco de trás. Depois de ter feito um longo trajeto numa estrada monótona, Jonas dormiu no volante. Então, de repente houve um estrondo e o carro se chocou com um cami-nhão.

Jonas ouvia pessoas lhe chamarem pelo nome, mas não podia res-ponder-lhes, nem se mover. Lembrou-se do acidente e se pergun-tava o que havia acontecido com Luís. Ruídos de motor de veículos parando e um murmurinho... gente que dialogava, eram os sons que lhe chegavam aos ouvidos. Alguém disse: "É muito grave!" Jo-nas desejava abrir os olhos para ver como ele estava, contudo, não tinha forças. Sentiu que o transportavam numa maca e em seguida escutou o arrancar de um carro.

Passadas algumas horas, lhe colocaram uns aparelhos na boca, nos braços, no peito e no nariz. Após um interminável período de silên-cio, chegou sua esposa. Ela lhe falava amavelmente e lhe sussurra-va: "Não se preocupe, já sairá do estado de coma e voltará para casa! Claro que sim!" Ele sentia suas lágrimas sobre ele e queria chorar também, porém, não conseguia.

Ignorava se era de manhã, de tarde ou se era de noite... Havia per-dido a noção do tempo e tudo lhe parecia muito distante. Uma voz de mulher dizia: "Doutor, ele está piorando... está morrendo!" Nin-guém sabia que Jonas podia ouvir e o que escutava somente lhe aumentava a angústia e o desespero, por não dispor de energias para fazer algo por si mesmo. Pensou em toda sua vida e não estava seguro se havia vivido o suficiente.

As imagens de seu passado iam e vinham... cenas da sua adoles-cência se misturavam com as que haviam ocorrido em sua  fase adulta. Lembrou-se de Deus e orou: "Senhor, não sou digno de lhe dirigir a palavra, entretanto, lhe suplico que perdoe meus pecados. Eu, nesse momento, sou apenas pensamentos, não sinto meu cor-po, compreendo que o que resta de mim é a alma e ela se curva diante de Ti, profundamente arrependida e esperançosa do seu perdão!" Os sons e as vozes estavam ficando cada vez mais longe, porém lutava para não perder este contato com o mundo. Já não ouvia mais nada, no entanto, entendia que o golpeavam no peito.

Teve uma parada cardíaca seguida de infarto e morreu.

Os médicos olharam um para o outro concordando silenciosamente com o que se passava.

Só não viram quando uma luz envolveu o quarto e a alma de Jonas deixou o corpo, tornando-o frio e pálido.

Rosimeire Leal da Motta
Vila Velha - ES


 

 
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