São
Paulo, sempre foi uma das grandes cidades do mundo,
e sempre a maior do Brasil.
Mas quem vê esta metrópole alucinada de
hoje, e a conheceu em outras épocas, forçosamente
sentirá a saudade batendo forte no peito.
Era outra vida, era o tempo das
serenatas...
Aqueles rapazes que pretendiam conquistar
suas eleitas, cantando sob suas sacadas, e as
donzelas, sempre suspirantes, assomavam às janelas,
sorrindo enlevadas para seus apaixonados.
Eram lindos romances.
As crianças dessa época apenas sabiam
brincar, ignorando totalmente essas coisas de
namoro.
A infância vivia uma verdadeira infância,
sem queimar etapas.
Felizmente, ainda não havia o tal do
celular...
Existia algo chamado inocência.
Apenas na entrada da adolescência que
começava a existir aquele namoro “de portão”, e
assim, as serenatas eram um meio para os rapazes
demonstrarem seus sentimentos às jovens.
Hoje, bate uma saudade incrível desse
romantismo gostoso.
Piegas, porém, muito gostoso.
Andava-se tranquilamente pela cidade, a
qualquer hora do dia ou da noite...
Era possível brincar nas ruas.
E existiam aqueles jogos de “uma na mula”,
“dono da rua”, jogava-se futebol nas calçadas, e com
bolas de meia.
Alguém sabe o que é uma bola de meia?
Claro que havia indivíduos que viviam fora
da lei.
Eram chamados malfeitores.
Mas nem eles agiam com violência,
principalmente com essa violência gratuita que vemos
nos dias de hoje.
Até para isso havia uma certa ética que
eles respeitavam.
Tivemos alguns nomes que marcaram época,
como Meneghetti, Sete Dedos, que entravam nas
resi-dências, roubavam e saiam, sem que ninguém
notasse sua presença.
Tudo dentro da mais estrita “ética
profissional”, sem nenhum ato violento...
Não havia esse consumo desenfreado de
drogas, essa maldade que se encontra hoje, quando as
pessoas de bem precisam viver enclausuradas, com
medo da violência das ruas.
A rua era nossa, podia-se passear e
brincar à vontade.
Havia um costume de época, quando vizinhos
se reuniam à porta de uma das casas, colocavam
cadeiras na calçada, e o papo avançava noite a
fora...
Não havia a tal da televisão, que tirou
esse costume tão gostoso...
Havia uma convivência saudável, e havia um
enorme respeito das crianças e jovens pelos mais
velhos. Sua palavra era quase lei.
Uma ordem "vai pra caminha", era seguida
sem discussão...
São Paulo com seus bondes, com o charme
fantástico da Avenida Paulista, e seus palacetes,
com que os “Barões do Café” ostentavam sua
opulência, sem que precisassem temer serem
sequestrados.
O que dizer então da Avenida São João, e
seus lindos cinemas, como Metro, Art Palácio,
Paysandu, programa obrigatório dos fins de semana.
O Ponto Chic, e seu famoso “Bauru”...
Haja saudade...
E as salas de espetáculo como Odeon, na
Rua da Consolação, com as Salas Azul, Verde e
Vermelha.
No carnaval, os bailes do Odeon eram o
ponto alto naquela bela Sampa.
Na esquina da Rua Consolação com a Av. São
Luiz, havia a Radio América, onde nos fins de semana
assistia-se a monumentais shows musicais.
Por exemplo, os Quitandinha Serenaders, um
conjunto que arrasava...
Não podemos esquecer um jovem que tocava
bandolim genialmente, chamado Jacob do Bandolim, e o
que dizer dos Titulares do Ritmo, que era um
conjunto formado por cegos, e que a todos encantavam
com sua arte...
Não podemos esquecer uma menina em começo
de carreira que arrasava corações juvenis, chamada
Hebe Camargo. E um garoto que ela chamou de
“principezinho de olhos azuis”, ganhando um gostoso
beijo nas bochechas...
Inesquecível...
Será que ela reconheceria hoje esse
"principezinho"?
Nessa época, ainda havia a famosa garoa...
Acho que a poluição matou a garoa...
E como era gostoso passear a noite,
curtindo o friozinho saudável dessa velha garoa...
Av. São Luiz, Praça da Republica, Av.
Ipiranga...
Nos dias de jogo no Pacaembu, o charme era
voltar a pé, para uma paquera na Praça Buenos Ayres,
um dos pontos mais lindos daquela São Paulo, descer
pela Av. Angélica até o Largo do Arouche, para ir
patinar num rinque de patinação, que era o ponto de
encontro da rapaziada, sempre naquela tentativa de
um namorinho com as meninas que lá iam, sempre com
seus pais. As meninas “de família”, jamais saiam
sozinhas...
Essa era a São Paulo daquela época...
Não é para sentir saudade?
“São Paulo da garoa... São Paulo que terra
boa...”
Rememorando, ainda é possível pensar em
ter UM LINDO DIA, com aquela lagrimazinha teimando
em descer...