Para quem viveu e conheceu esta Sampa
d'antanho,
realmente, "Recordar é Viver"...
Agradeço ao amigo paulistano Friend por ter com sua
arte, dado outra vida ao texto...
Beijos paulistanos,
Marcial
A VELHA SAMPA...
AQUELA SÃO PAULO DA GAROA
Marcial Salaverry
São Paulo, sempre foi uma das grandes
cidades do mundo, e sempre a maior do
Brasil.
Mas quem vê esta metrópole alucinada de
hoje, e a conheceu em outras épocas,
forçosamente sentirá a saudade batendo
forte no peito.
Era outra vida, era o tempo das
serenatas...
Aqueles rapazes que pretendiam
conquistar suas eleitas, cantando
sob suas sacadas, e as donzelas, sempre
suspirantes, assomavam às janelas,
sorrindo enlevadas para seus
apaixonados.
Eram lindos romances.
As crianças dessa época apenas sabiam
brincar, ignorando totalmente essas
coisas de namoro.
A infância vivia uma verdadeira
infância, sem queimar etapas.
Existia algo chamado inocência.
Apenas na entrada da adolescência que
começava a existir aquele namoro “de
portão”, e assim, as serenatas eram um
meio para os rapazes demonstrarem seus
sentimentos às jovens.
Hoje, bate uma saudade incrível desse
romantismo gostoso.
Piegas, porém muito gostoso.
Andava-se tranquilamente pela cidade.
Era possível brincar nas ruas.
E existiam aqueles jogos de “uma na
mula”, “dono da rua”, jogava-se futebol
nas calçadas, e com bolas de meia.
Alguém sabe o que é uma bola de meia?
Claro que havia indivíduos que viviam
fora da lei.
Eram chamados malfeitores.
Mas nem eles agiam com violência,
principalmente com essa violência
gratuita que vemos nos dias de hoje.
Até para isso havia uma certa ética que
eles respeitavam.
Tivemos alguns nomes que marcaram época,
como Meneghetti, Sete Dedos, que
entravam nas residências, roubavam e
saiam, sem que ninguém notasse sua
presença.
Tudo dentro da mais estrita “ética
profissional”.
Não havia esse consumo desenfreado de
drogas, essa maldade que se encontra
hoje, quando as pessoas de bem precisam
viver enclausuradas, com medo da
violência das ruas.
A rua era nossa, podia-se passear e
brincar à vontade.
Havia um costume de época, quando
vizinhos se reuniam à porta de uma das
casas, colocavam cadeiras na calçada, e
o papo avançava noite a fora...
Não havia a tal da televisão, que tirou
esse costume tão gostoso...
E agora então, com os celulares tomando
conta do tempo e do juízo da garotada,
isso desapareceu de vez...
Quase ninguém conversa mais, só se fala
pelo "zapzap"...
Havia uma convivência saudável, e havia
um enorme respeito das crianças e jovens
pelos mais velhos.
Sua palavra era quase lei.
São Paulo com seus bondes, com o charme
fantástico da Avenida Paulista, e seus
palacetes, com que os “Barões do
Café” ostentavam sua opulência, sem que
precisassem temer serem sequestrados.
O que dizer então da Avenida São João, e
seus lindos cinemas, como Metro, Art
Palácio, Paysandu, programa obrigatório
dos fins de semana.
O Ponto Chic, e seu famoso “Bauru”...
Haja saudade...
E as salas de espetáculo como Odeon, na
Rua da Consolação, com as Salas Azul,
Verde e Vermelha.
No carnaval, os bailes do Odeon eram o
ponto alto naquela bela Sampa.
Na esquina com a Av. São Luiz, havia a
Radio América, onde nos fins de semana
assistia-se a monumentais shows
musicais.
Por exemplo, os Quitandinha Serenaders,
um conjunto que arrasava...
Não podemos esquecer um jovem que tocava
bandolim genialmente, chamado Jacob do
Bandolim, e o que dizer dos Titulares do
Ritmo, que era um conjunto formado por
cegos, e que a todos encantavam com sua
arte...
Não podemos esquecer uma menina em
começo de carreira que arrasava corações
juvenis, chamada Hebe Camargo.
E um garoto que ela chamou de
“principezinho de olhos azuis”, ganhando
um gostoso beijo nas bochechas...
Inesquecível...
Será que ela reconheceria hoje esse
"principezinho"?
Nessa época, ainda havia a famosa
garoa...
Acho que a poluição matou a garoa...
E como era gostoso passear a noite,
curtindo o friozinho saudável dessa
velha garoa...
Av. São Luiz, Praça da Republica, Av.
Ipiranga...
Nos dias de jogo no Pacaembu, o charme
era voltar a pé, para uma paquera na
Praça Buenos Ayres, um dos pontos mais
lindos daquela São Paulo, descer pela
Av. Angélica até o Largo do Arouche,
para ir patinar num rinque de patinação,
que era o ponto de encontro da
rapaziada, sempre naquela
tentativa de um namorinho com as meninas
que lá iam, sempre com seus pais.
As meninas “de família”, jamais saiam
sozinhas...
Essa era a São Paulo daquela época...
Não é para sentir saudade?
“São Paulo da garoa... São Paulo que
terra boa...”
São Paulo de um tempo que não volta
mais...
Mas como "recordar é viver", com essas
lembranças, podemos fazer do aniversário
de Sampa mais UM LINDO DIA...
Vamos curtir...
Fundo Musical: Sampa - Caetano Veloso
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