A criança dentro de nós
 
Recebi em 23/03/2024

Child

Não devemos permitir que o espírito

acompanhe o "idosamento" do corpo...

Ósculos e amplexos,

Marcial

A CRIANÇA DENTRO DE NÓS
Marcial Salaverry

Algo que não devemos jamais deixar morrer em nosso espírito, é aquela criança que um dia fomos, e que existia em nosso corpo.

Era uma criança muito feliz, que pulava, ria e adorava brincar com tudo, jamais querendo se desfazer de seus brinquedos velhos.

Quanta coisa fizemos em nossa infância, e que esquecemos depois, como pular amarelinha, rodar pião, voltar pra casa bem devagar em dias de chuva, chapinhando nas poças d'água, correr feito doido pelas calçadas, tocando campainhas e trepando em árvores.

Como era gostoso roubar as jabuticabeiras dos vizinhos, e quando queria comer os doces que meu pai não queria comprar "para não estragar os dentes", roubava chuchu na horta do "seu" Julio, e ia troca-los por doces na venda do "seu" Manoel, que topava a troca porque não gostava do Julio...

Vibrava quando ganhava brinquedos novos.

Adorava brincar com tampinhas, soldadinhos de chumbo, caminhãozinho de madeira, bolinha de gude.

Adorava brincar de médico, "examinando" as meninas...

Sonhava ser médico só para poder toca-las à vontade...

Ainda bem que não fui...

Amava de paixão jogar futebol de botão.

Meu tricolor ganhava todas.

Não via a hora de chegar as datas especiais.

Na Páscoa, entupia-me de chocolates, e minhas irmãs adoravam isso, porque depois iam espremer minhas espinhas...

E no Natal, escrevia cartas e mais cartas para Papai Noel.

E que grande frustração naquele ano de crise financeira, quando o par de patins pedido virou uma bola de futebol.

Encantava-me quando tinha circo.

Adorava os trapezistas e os palhaços.

E quando surgiam as feras, sonhava com safáris na África. (e não é que consegui? Demorou um pouquinho, mas cheguei lá.)

Essa criança não devemos deixar morrer jamais, devemos conserva-la dentro de nós, e passar sua imagem para nossos filhos e netos, ensinando que não devem deixar o adulto que vai aparecer sufocar esse espírito alegre e meio rebelde que toda criança tem.

Esse inconformismo com certas regras que os adultos impõem, bitolando a vida das crianças.

Se ela tentar fugir, devemos procura-la.

Se em determinada fase de nossa vida a perdermos de vista, devemos dela nos lembrar e ir busca-la lá naquele poço onde a jogamos, e resgata-la, porque a idosidade não deixa de ser uma volta ao passado.

E podemos esquecer certas responsabilidades que nossa "adulticidade" nos trouxe.

Podemos esquecer um pouco certas "normas de conduta", e ser criança novamente.

Sentir outra vez a alegria de viver, ainda que a vida nos tolha um pouco os movimentos físicos, mas nossa alma jamais deverá ser tolhida.

Não devemos ter vergonha de ser feliz.

De sorrir para um estranho.

De sentir que aquela criança que não tinha certos preconceitos está viva e bem viva em nossa alma.

E se nosso físico não nos permite pular corda, jogar futebol, brincar de "uma na mula", deixemos que nossa alma o faça, e nos sentiremos igualmente felizes.

Para não deixar morrer essa criança que todos temos dentro de nós, deixemo-la sair, deixemo-la sonhar, empinar papagaios porque isso não custa nada, e faz um bem enorme, chega a ser medida preventiva contra estresse, enfartes e colesterol alto.

Com o pensamento em filhos, netos e bisnetos, vamos tentar fazer com que as crianças de hoje esqueçam o tal do celular, e assim, sem duvida este será UM LINDO DIA, com aquelas brincadeiras d'antanho que eram mais do que saudáveis...



Fundo Musical: Around The World - Ernesto Cortázar

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