Se o mundo acabasse amanhã...


Pediria que meu filho grudasse em mim, feito carrapato. Daria mi-lhões de lanches que ele adora e assistiria todas as besteiradas de adolescentes ao lado dele. Gostaria que minha mãe me desse um beijo na face, e feijão cozido na panela da casa dela, com todos meus irmãos e sobrinhos ao redor da mesa. Daria muitos beijos em todos meus irmãos, são três...

Gastaria uma fortuna em cosméticos da L´OCCITANE, principalmen-te o perfume de baunilha e o Douche D´orange. Kenzo espalhado pela sala, Chanel Five no quarto de amar... E tantos souvenirs... Ah, derramaria um Miss Varens - Eau de Parfum sobre meus lençóis  e chamaria meu amado para debruçarmos os corpos em ce-tins... Comeria um quilo de  camarão dourado em vinho branco... Beberia a caixa de champanhe de minha casa e iria ao empório de importados mais próximo comprar mais, para esmaecer sob bolhas francesas...

Assistira Sarah Brightman - Diva - The Video Collection, três vezes, no mínimo, e dançaria todas as músicas apresentadas para o meu amor. Pegaria meus livros - de Clarice Lispector, Vinicius, Gabriel Garcia Marquez, Shakespeare, Eduardo Fieiro, Fernando Pessoa, Bí-blia  Sagrada, Lord Byron, Chico Buarque, Ana Carolina (Músicas), Chamfort, Tristão de Athayde, Eça de Queiros e muitos outros e os grudaria em minha pele, como os poros respiram...

Entraria num desvio pleno e absoluto de paixão de corpos despidos da vida taciturna, em rodelas de cerejas bem vermelhas. Excitante forma de ver a vida se esvair... Olharia a lua com olhos bem aber-tos e boca pintada para absorver toda a beleza que dela ema-na. Claro que seria noite, caminhando para a madrugada, e o céu estaria muito estrelado e a amante bordada, cheia nos céus...

Pediria perdão a Deus por tantas luxúrias maravilhosas que acabara de descrever, só no finalzinho mesmo... Sinceramente... Gostaria de fechar os olhos e rever meu pai acariciando meus cabelos pretos e longos da infância tenra. Ligaria para amigos íntimos e deixaria uma carta colada em cada porta, em cada coração. Como um pre-go selando amor e carinho com força e eternidade. Pediria muita mas, muita paz mesmo a todos os cérebros do mundo inteiro... E também muitos banquetes aos povos, sem exceções... Uvas italia-nas, maçãs argentinas, peras grandes e maduras, cerejas enormes,  tâmaras inúmeras, pêssegos grandes e semi maduros... Pediria a liberdade de expressão para gritar às janelas do mundo o quanto a vida poderia ser bela e feliz, sem levar multa do síndico do pré-dio... Amanheceria com  pés descalços no mato de respirar, com o Cássio embalado em meu colo e minha mãe deitada ao meu lado - para que eu cuidasse dela até o último suspiro... Amaria sem dó nem piedade e deixar-me-ia ser amada por todos os poros até a voz  ficar sem fôlego e as mãos, amolecidas de tanto prazer...

Seriam tantos pedidos, que tornariam-se um romance infindável... Então fecho aqui minha lista pedindo tempo para publicar ainda este escrito em todos os sites - a mais linda, dos poetas amigos....

Luiza de Marillac Bessa Luna Michel


 

 
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