Impossível não relembrar nesta madrugada de 6 de janeiro dos tempos da minha infância... um dia antes terminava a liturgia de fazer os Reis caminharem, a cada dia, passo a passo com seus animais os camelos, pelo deserto (armado com a areia branca e fina, recolhida e trazida da praia do Suarão) do Presépio montado em casa por meu pai ajudado pelos filhos, até chegarem na Divina Gruta para presentear e adorar o Menino Nascido. Antecipava-se porque estava determinado...cedinho do dia 5 ou antes, era o trenzinho da Sorocabana que levaria a família para Itanhaém e o preparo festivo para, nesta madrugada, receber a Folia dos Reis...ninguém dormia, ajuda a mãe na arrumação da mesa com seus docinhos e quitutes, ao longe já se ouvia a cantoria... logo depois a ordem, apagam-se as luzes, os Reis já vão chegar na casa de Pureza (prima do meu pai)...as luzes apagavam e a menina aqui eletrizava...e lembro de meu pai recomendando baixinho...psiu...quieta agora... já estão na casa de Nestor (o primo que morava ao lado da nossa, irmão de Pureza)...ah! quanta alegria, coração quase explodia quando ouvia aquele toc.toc.toc. na nossa porta e o canto iniciava para a nossa família... acordai que estais dormindo...neste sono tão profundo ....acordai e vinde ver... as maravilhas do mundo. O canto da estrofe abaixo, que não está no arquivo musical que embala este, logo após ao da estrela orientadora dos Reis Magos, era o sinal para que as luzes se acendessem e a porta fosse aberta. Os Reis haviam chegado:Vem Gaspar vem Baltazarvem Belchior em companhiapra adorar o Deus MeninoFilho da Virgem Maria.Ao final da cantoria era uma imensa alegria, abraços, desejos de Feliz Reis, celebração, corações em festa, que não podia ser longa pois a Folia tinha o caminho, que varava a madrugada, a percorrer para encontros com outras famílias. Recordo meu pai agradecendo a vinda da Folia dos Reis em nossa casa e ensejando uma oração coletiva...penso que era sempre uma Ave Maria. E eu era a incumbida da entrega da prenda que era oferecida pela família, privilégio de caçula, destinada à quermesse beneficente de São Sebastião, celebrando o seu dia em 20 de janeiro, que ocorria nesse dia ao lado da Matriz de Sant´Ana após a Santa Missa.A Folia dos Reis cantava sua despedida de agradecimento pela acolhida e lá em nossa casa era esta a estrofe final:pela prenda que nos destesdada pelas mãos da meninaque a Senhora da Conceiçãolhe sirva sempre de Madrinha.Lembranças, emoções revividas, saudade aguçada de meu pai e dos meus irmãos pelas tantas tiradas de Reis, como a tratávamos quando nós, já adultos, realizamos tantas e juntos como folientos cantores... quanto riso solto, como crianças...quanta alegria. Relembro aqui para deixar registrada a memória da minha infância para Lucas e Lívia.E envio para amigos (as) desejando a todos (as) votos de um belo final deste Dia dos Reis com óleos de mirra que aplaquem todas as dores e proporcione muita saúde...incenso para espargir alegria infinda e muito ouro de harmonia para a PAZ pretendida.Que o Menino Deus nos cubra a todos (as) com Suas Bênçãos.
Gui