The Archer, by Khalil Gibran
 
A COERENTE INCOERÊNCIA DOS POETAS
Por Carmo Vasconcelos

O poeta tem dias de apego e outros de libertação. A fascinante essência do poeta é mesmo essa dicotomia.
A pluralidade de desejos, a inconstância de ser e estar, a inquietude perene, a ânsia latente,
na incansável busca da união com o TODO,
porque menos do que isso é a insatisfação do poeta.

O poeta ora abre as asas ao sol, ora se ensopa de chuva; ora sorve o ar que respira, ora sufoca em recolhimento.
Por
vezes, é fuga. Veste-se de distância e monta na garupa do vento!
Tanto se deseja solto como uma gaivota, como se deseja aprisionado, refém rendido ao amor!
Ora é azul, asas rasgando o Infinito, ora se imola no fogo; veste-se de rubro e deixa vibrar a carne em labaredas de paixão!
Hoje, ele é diamante, duro e impenetrável; amanhã, será cristal permeável a todos os sentimentos!
Tão depressa o poeta é mesa farta, enfeitada de rosas a desabrochar em orgasmos multicor,
onde, completo, se entrega,
saciando-se de ardentes beijos e degustando as doces iguarias do Amor,
como logo, ele se compraz em mísero retiro, e na angústia da fome, deixa crescer o seu desejo até que ele todo o invada,

até que rebente como um balão, libertando estrelas em chuva de paixão!

E é desta amálgama informe de sentimentos da sua alma inquieta e multifacetada,
que o poeta, numa alquimia efervescente, depura, destila e molda os seus versos.

Ora espírito ora carne, por vezes, ambos, mas sempre respirando o sublime halo da poesia.
Só assim, o poeta consegue conviver, coerentemente, com a sua incoerente e utópica essência.

***
Lisboa/Portugal
CarmoVasconcelos

(In Revista eisFluências nº 1, 15 Outº/2009)



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(In Revista eisFluências nº 1, 15 Outº/2009)

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