Hoje, na iminência de arredondar minhas oitenta primaveras,
miro-me no espelho e olho a foto acima. Tantos anos passados induzem-me a duvidar de que esse cara sou eu.
Ele era dono do
mundo, um super-homem, atleta praticante de vários esportes,
fôlego invejável, acreditava que todos seus feitos e pensamentos
eram corretos, sabia tudo, ninguém era mais sábio que ele,
arrostava todos os desafios, transpunha qualquer obstácu-lo...
Como estava
enganado... nada sabia, muito tinha que aprender! A vida se
encarregou de ensinar-lhe a acertar o passo e a marchar na
cadência certa pela estrada que Deus lhe destinara.
Muitas vezes
tropeçou no caminho, caiu e levantou-se. Os tombos não lhe
causaram danos e procurou aprender com eles. Chorou muito nas
horas tristes e soube sorrir nos momentos alegres. Con-cluiu que
era mais importante ajudar do que ser ajudado. Estendeu sua mão
inúmeras vezes ajudando amigos, colegas, conhecidos e até
desconhecidos. Estudou, trabalhou muito e pouco ganhou, mas esse
pouco lhe foi suficientemente gratificante.
Sofreu a dorida
perda irreversível de seus adorados ascendentes e colocou no
mundo seus amados descendentes. Plantou árvores que lhe deram
frutos, semeou pelas trilhas em que passava, legando alento para
os que vinham atrás. Deixou em livros, para a posteri-dade, alguns poemas em coletâneas, na companhia de outros poetas de
maior grandeza.
Ganhou muitos amigos
mas perdeu alguns ao longo do caminho. Fez grandes amizades
mantendo algumas até hoje. A única coisa que ainda temos em
comum, eu e ele, é o coração. Este é o mesmo que bate em meu peito, só que, agora, em cadência mais cansada mas carregando o
mesmo amor, a mesma vontade de acertar, de ajudar, sem
esmorecer. Lutador até o fim!
Obrigado meu Deus por Teres me dado tanta força e apoio em minha
jovem idade, obrigado por ajudar-me a chegar até aqui! Sinto que
ainda muito posso e tenho que fazer, se assim O permitires!