A CHAVE DO PODER

Irani Gennaro

 

 

Certa tarde numa classe da escola primária, a professora disse:
“Cada um de vocês irá escrever uma poesia”
As meninas do terceiro ano sorriram umas para a outras e curva- ram-se felizes sobre as carteiras. Os meninos ficaram com um olhar ressabiado a imaginar o que poderiam escrever, especialmente o Rodrigo.

A professora dissera ainda que aquele que escrevesse a melhor poesia sobre seu pai teria uma chave dourada colocada junto ao seu nome no quadro negro. Rodrigo semicerrou seus olhos, tentando imaginar como ficaria seu nome com uma linda e brilhante chave dourada ao lado. Mas seu sonho se desfez, pois tinha certeza de que nenhum trabalho seu poderia ser julgado o melhor.

Rodrigo olhou para a folha em branco que a professora lhe entregara.
Com a borracha da ponta superior de seu lápis, começou a fazer marcas no papel. Seria fácil desenhar uma chave, concluiu, uma porção delas; mas isto de nada valeria, em comparação com uma grande e dourada junto a seu nome no quadro negro!

Monica levantou a mão ”Eu terminei”, exclamou, quando a professora chamou. “posso ler minha quadrinha?”
Todos os trabalhos devem estar terminados hoje às três horas da tarde. “Então você poderá ser a primeira a ler o seu” prometeu a professora. Pontualmente às três horas, a professora chamou Monica que levantando-se, orgulhosamente declamou:

“Os pais nos compram coisas bonitas, roupas e comida
Ajuda a mamãe a pagar nossas festinhas e tudo o mais.
Desejamos-lhes muitas felicidades,
E que “nunca nos deixem jamais.”

Paulo foi o seguinte:
“Os pais são trabalhadores estão sempre se preocupando com tudo,
Comida, remédios, aluguel, roupas de veludo;
Mas seriam verdadeiros tesouros
Se aprendessem como nós todos
A gostar de besouros.

Todas as crianças leram alegremente as poesias que haviam feito para seus pais, todos, menos Rodrigo “Eu não sei fazer poesias” explicou, “as palavras não querem rimar”
As crianças trocaram sorrisos divertidos.” Mas eu escrevi o que sinto”, continuou e passou a ler:

“Pais. . . oh! os pais. . .
Bem. . . Eles causam tanta dor,
Quando você não os tem.”

Ele olhou em redor, encarando os colegas a espera dos risos de mofa por não saber escrever uma quadrinha. Estes lhe devolveram o olhar, mas não havia riso em seus olhos. E ficaram satisfeitos quando a professora colocou uma chave, grande e dourada, no quadro negro ao lado do nome de Rodrigo Luiz de Andrade.

 



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