A Bíblia
protestante não tem os seguintes livros: Tobias, Judite, al-gumas partes de
Daniel e Ester, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Carta de Jeremias e os dois
livros dos Macabeus.
Esta diferença vem de longe e tem uma longa história:
O Começo da História:
300 ou
400 anos antes do nascimento de Jesus, houve muita gente que imigrou da
Palestina para o Egito, assim como houve italianos que vieram morar no
Brasil, os primeiros que vieram para cá ainda falavam o italiano, mas os
filhos dos italianos começaram a falar português, e os netos já não entendem
mais o italiano, assim acon-teceu com os judeus que saíram da Palestina para
morar no Egito.
Na Palestina
falavam o aramaico, que é muito semelhante ao he-braico.
A primeira e a
segunda gerações ainda entendiam o hebraico, mas a terceira não entendia
mais nada, porque era uma língua que eles não falavam.
Então sentiu-se a
necessidade de fazer uma tradução da Bíblia.
Esta tradução foi feita aos
poucos e levou muito tempo.
Começou em torno
do ano 250 antes de Cristo e levou quase 100 anos até ficar pronta.
Assim eles
acabaram ficando com duas Bíblias: uma em língua he-braica para os judeus da
Palestina, e outra em língua grega para os judeus que viviam fora da
Palestina, lá no Egito.
O tempo foi
passando.
Os judeus que
moravam no Egito foram escrevendo mais alguns li-vros em grego, e a Bíblia
deles ficou maior.
Então os judeus da
Palestina quiseram confrontar as duas Bíblias, e fizeram uma lista dos
livros que para eles eram Sagrados.
Deixaram fora da
lista os livros que os judeus do Egito tinham es-crito a mais em grego.
Quando o pessoal
do Egito soube disso, não ligou muito, e continu-ou deixando sua lista
aberta.
Assim, na Bíblia
grega dos judeus, foram acrescentados sete livros a mais:
Eclesiástico,
Sabedoria,
os dois dos Macabeus,
Tobias,
Judi-te e
Baruc.
Além disso,
uns trechos de
Daniel
e Ester e uma
Carta de Jeremias.
Sendo assim a
Bíblia deles ficou sendo mais comprida.
Como podemos
notar, a Bíblia dos protestantes segue a lista da Bí-blia Hebraica dos
judeus da Palestina; a Bíblia dos católicos segue a lista da Bíblia Grega
dos judeus do Egito.
Esta Bíblia Grega
se espalhou pelo mundo todo daquele tempo, pois a língua do mundo era o
grego.
O Meio da História:
Os
primeiros cristãos, como já vimos, eram de Jerusalém, e por-tanto usavam a
Bíblia em língua hebraica, aquela mais curta.
Mas quando vieram
as perseguições, os cristãos começaram a se es-palhar para outros países,
onde a língua falada era o grego.
Eles passaram
então a usar a Bíblia escrita em língua grega.
Tudo ficou
tranquilo até que os judeus da Palestina, para se defen-der contra os
cristãos, começaram a dizer: "Tá
vendo! A Bíblia de-les está errada. Tem livros demais."
Aí fizeram uma
reunião no ano 97, e disseram: "Para
nós a Sagrada Escritura é esta aqui, a lista pequena".
Mais uma vez, os
cristãos não ligaram muito e ficaram com a lista mais comprida, que eles
consideravam toda Palavra de Deus, inspi-rada por Ele.
Por volta do ano
400 o Papa Dâmaso pede a Jerônimo, biblista, que traduza a Bíblia para o
latim, pois naquele tempo não se falava mais nem o hebraico e nem o grego,
mas o latim.
Precisava então de
alguém que fizesse uma nova tradução, para que todo mundo pudesse entender.
Jerônimo concordou
e começou a trabalhar.
Havia porém um
problema.
Jerônimo não conhecia o hebraico.
Procurou então um
velho rabino judeu de Belém, para ter aula com ele.
Devido às aulas,
os dois acabaram ficando muito amigos.
Trocavam ideias
sobre a Bíblia, até que Jerônimo ficou influencia-do pelo rabino e começou a
pensar que a verdadeira Bíblia era aquela mais curta, aquela dos judeus.
Jerônimo, porém,
sabia que a Igreja não pensava como ele, então traduziu tudo, mas disse que
os sete livros que não estavam na Bí-blia hebraica eram "deuterocônicos".
"Dêutero"
que dizer segundo; "cânon"
significa lista ou categoria. São livros da segunda lista, de segunda
categoria.
O Fim da História:
A
opinião de Jerônimo tinha muito peso na Igreja.
Aí a briga começou
de novo.
Antes ninguém tinha dúvidas, mas depois que Jerônimo veio com esta de "deuterocanônicos",
a discussão voltou a ser forte e a briga continuou por muitos e muitos anos.
Com o passar dos
séculos, o negócio foi ficando tão sério que os bispos resolveram
pronunciar-se oficialmente.
Fizeram isto numa
Carta escrita durante o Concílio Ecumênico de Florença, no ano de 1430.
Nesta Carta diziam
que para a Igreja Católica faziam parte da Sa-grada Escritura todos os
Livros da lista comprida.
Tudo parecia em
paz, quando o assunto voltou à tona por causa de Lutero.
Tendo deixado, por
protesto, a Igreja Católica, Lutero tinha come-çado a Igreja Protestante.
A primeira
preocupação dele foi traduzir a Bíblia do latim para o alemão.
Este foi um
trabalho muito bom porque, como Lutero dizia: "O
po-vo tem que poder ler a Bíblia, com sua cabeça e com seus olhos."
A Bíblia que
Lutero traduziu, porém, foi a Bíblia pequena, aquela dos Hebreus.
Com ela reabriu-se
a discussão dentro da Igreja.
Então, no Concílio
de Trento, os Bispos definiram a coisa e, encer-raram a discussão: "A
Bíblia que a Igreja Católica aceita como ins-pirada por Deus é aquela
comprida."
Os católicos
ficaram com a Bíblia comprida e os protestantes com a curta, como Lutero
tinha traduzido.
E esta diferença
existe ainda hoje.
Hoje em dia já tem
Bíblias protestantes que trazem os outros Li-vros, porque muitos deles sabem
que são Livros antiquíssimos e de grande valor.
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