Meu violino é friamente deus de cordas ácidas lacerando tochas de prece na queda cinza da madrugada voa em meus olhos a convulsão cromática do abismo a entreteço azul Pela vertigem destes dedos contorcendo a rubra loucura das cordas, vibra na alma de meus nervos a agulha líquida de todas as fontes, que derramam asas de vozes em labareda. Minhas mãos nasceram da orquestração de gargalhadas imersas, num lago onde amoldo marulho em vermelho, num instante, pelo capricho da vertigem entre dedos modulo Deus à minha imagem e o domínio na fuga do infinito e esmago estrelas e relevo gritos na dissonância integral dos incêndios Meu Deus! Só não consigo destruir o moto-perpétuo de meu desespero!
Glácia Daibert |