Lobos internos


Um dia um velho avô foi procurado por seu neto, que estava com raiva de um amigo que o havia ofendido.

O sábio velhinho acalmou o neto e disse com carinho: Deixe-me contar-lhe uma história.

Eu mesmo, algumas vezes, senti muito ódio daqueles que me ofen-deram tanto, sem arrependimento.

Todavia, o ódio corrói a nossa intimidade mas não fere nosso inimi-go.

É o mesmo que tomar veneno desejando que o inimigo morra.

Lutei muitas vezes contra esses sentimentos.

O neto ouvia com atenção as considerações do avô.

E ele continuou: é como se existissem dois lobos dentro de mim.

Um deles é bom.

Não magoa ninguém.

Vive em harmonia com todos e não se ofende.

Ele só lutará quando for certo fazer isto, e da maneira correta.

Mas, o outro lobo, ah!, esse é cheio de raiva.

Mesmo as pequenas coisas desagradáveis o levam facilmente a um ataque de irar!

Ele briga com todos, o tempo todo, sem qualquer motivo.
É tão irracional que nunca consegue mudar coisa alguma!

Algumas vezes é difícil de conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito.

O garoto olhou intensamente nos olhos de seu avô e perguntou: E qual deles vence, vovô?

O avô sorriu e respondeu baixinho:Aquele que eu alimento mais frequentemente .

A figura do lobo é significativa, uma vez que representa o grau de animalidade que ainda rege as nossas ações.

Enquanto o ser humano não desenvolver todas as virtudes que o elevarão à categoria de espírito superior, sempre haverá em sua intimidade um pouco dos irracionais.

E essa luta interna é que irá definindo o nosso amanhã, de acordo com o lado que mais alimentamos.

Por vezes, um simples ato impensado, uma simples ação infeliz, pode nos trazer consequências amargas por longo tempo.

Paulo, o grande apóstolo do cristianismo, identificou muito bem essa luta íntima quando disse:o bem que eu quero, esse eu não faço, mas o mal que não quero, esse eu faço.

É preciso deixar que esse lobo sedento de vingança e obcecado pela ira, que ainda encontra vitalidade em nosso íntimo, não rece-ba alimento e desapareça de vez por todas, cedendo lugar ao ho-mem moralmente renovado que desejamos ser.

Mas, para que para que o lobo da ira desapareça, temos que travar muitas batalhas internas a fim de fazer com que nossos pensamen-tos e atos não o alimentem.

Glácia Daibert



Fundo Musical: Dances With Wolves
 

 
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